“Eu chorei toda vez que ela chorou…” e nós, leitores, acompanhamos cada mililitro de um litro de lágrimas.
O diário de Kito Aya é mundialmente conhecido, ainda mais pelas pessoas que apreciam a cultura japonesa e têm como hobby assistir dorama. Sim, porque, querendo ou não, o ocidente só passou a conhecer “Um Litro de Lágrimas” (一リットルの涙) através dos chorosos 11 episódios da novela japonesa (o qual fiz uma resenha no meu próprio blog, quase homônimo), que foi exibida no Japão de outubro a dezembro de 2005, pela Fuji TV. Diferente do dorama, o livro explora as minúcias do dia a dia de Aya, desde suas tarefas escolares e afazeres domésticos aos avanços de sua doença, degeneração espinocerebelar. Também é válido salientar que diferente do dorama não existe um “par romântico” na história original do livro.
O livro é dividido em capítulos, sendo sete deles escritos por ela e oito por sua mãe, Kito Shioka. Há também dois epílogos, um com relatos da doutora que acompanhou o caso desde o início e outro da mãe, que, na sequência, finaliza a edição com o posfácio. Ainda há uma página dedicada à doença nos dias de hoje.
A História
Kito Aya é uma adolescente japonesa normal. Estudiosa e extrovertida, nunca teve dificuldades nos deveres escolares ou em fazer amigos. Aos 15 anos, começa a sentir alguns sintomas, como tonturas, perda de equilíbrio e capacidade motora. Sua mãe começa a achar tudo isso muito estranho e resolve levá-la ao hospital para saber o que está acontecendo. A doutora especialista logo detecta a doença, mas a mãe prefere manter sigilo por um tempo e só revelar a verdade após a realização de alguns exames. Quando a médica esclarece os detalhes da degeneração espinocerebelar e afirma que é uma doença incurável, Shioka perde o chão, mas não se deixa abater. Aos poucos, vai criando caminhos para que a filha tome conhecimento da enfermidade que está prestes a dominar sua adolescência de forma irreversível. A partir do momento que é revelado seu caso clínico, Aya é obrigada a mudar sua rotina diária. Seja em casa ou na escola, as coisas não são mais as mesmas. Nesta etapa, ela passa a depender muito dos outros, especialmente de seus colegas de classe, que precisam acompanhar seu ritmo mais lento, e de sua mãe, que começa a se dedicar quase 100% a ela, deixando os outros filhos um pouco de lado.
Considerações Técnicas
A história é tocante do começo ao fim. Como a maioria das pessoas que a conhecem, comecei pelo dorama. De fato, derramei quase um litro de lágrimas do primeiro ao último episódio, que, inclusive, recomendo a todos. Diferente do dorama, o livro é, obviamente, mais autobiográfico. É possível sentir a tristeza de Aya a cada linha escrita. Mesmo com sua personalidade admirável e mantendo a esperança sempre, há momentos em que tudo parece desmoronar ao seu redor e ela fraqueja. O que lhe resta é o próprio diário. Apesar de ser um caderno com folhas em branco onde despeja os avanços de sua doença, ali ela consegue substituir sua voz por palavras e abrir-se verdadeiramente.
A cada parágrafo, Aya exprime uma vontade voraz de viver. Seu desejo pela vida vai além de qualquer diagnóstico médico e, por ela, jamais desistiria. Mesmo quando descobre que a doença pode ser controlada só por algum tempo e que a tendência é progredir ainda mais, mas jamais regredir, continua a querer ser participativa e não deixa de acreditar que existe uma luz no fim do túnel.
Acredito que tudo que é capaz de nos emocionar merece ser lido. Rindo ou chorando, toda emoção merece ser valorizada. “Um Litro de Lágrimas” não nasceu pra fazer ninguém sorrir, mas sinto que sua existência literária ensina a importância de cada momento de felicidade. Os relatos de Aya têm o poder de abrir nossos olhos para o que passa despercebido pela maioria. Sons, pessoas, palavras, atitudes e o significado de tudo isso para cada um. São poucos os que param para refletir. Inicialmente, o diário foi recomendado pela doutora para que Aya praticasse a escrita como um exercício motor. Com o tempo, escrever se tornou um momento de conforto para ela, muito mais do que um aliado da fisioterapia. Não pensem que encontrarão um amontoado de lições de moral. A ideia de Shioka ao publicar o livro é de compartilhar os sentimentos de sua filha com o mundo e ajudar todos aqueles que têm a mesma doença que ela ou qualquer outra de peso semelhante. Mensagem recebida com sucesso.
Edição Brasileira – Editora NewPOP
A editora NewPop já tinha os direitos de publicação do mangá de “Um Litro de Lágrimas” e era de se esperar que conseguisse os do livro também. Assim como na primeira adaptação, o resultado não chega a ser nem satisfatório. Pessoalmente, achei bem fraco, da capa a contracapa. Vou explicar os porquês:
– A diagramação do livro poderia ter sido mais caprichada. Há capítulos que começam no fim da página, reservando apenas duas linhas para o início do mesmo;
– Encontrei diversos erros de ortografia e gramática durante a leitura. Isso é muito decepcionante, afinal, sabe-se que a editora conta com mais de dois revisores à disposição, e, portanto, erros assim não são perdoáveis;
– Como não li a versão original em japonês, não posso opinar a respeito da tradução. Porém, acho que faltou um cuidado maior na hora da escolha das palavras e dos sinônimos utilizados.
De pontos positivos, diria que as fotos do início do livro são os detalhes que mais chamaram a minha atenção. Elas mostram o avanço da doença e deixam uma sensação de devastação, que traduz fielmente o quanto alguém pode se transformar em tão pouco tempo.
Comentários Gerais
Mesmo que a editora tenha feito um adaptação quase péssima, não consigo deixar de recomendar o livro de “Um Litro de Lágrimas”. A história é triste? Sim. Você pode ficar chateado por algum tempo, pensando no quanto a Aya sofreu? Sim. E isso tudo é muito bem-vindo. Em maio de 1988, há mais de 25 anos, ela partiu, mas a mensagem deixada jamais será esquecida pela família e por todos nós, que fomos impactados tão fortemente por suas palavras e confissões.
Gostaria de compartilhar um trecho que achei incompreensível:
“Acho que tanto os pombos como as pessoas que lançaram a bomba atômica são muito irresponsáveis.”
E, claro, um trecho que achei lindíssimo:
“Pode deixar que ainda tenho força suficiente para te carregar nas costas e haja um terremoto ou incêndio, você será a primeira que correrei para salvar…”
por Jacqueline, do blog “Um Litro de Dorama”
To chorando só de ler o review rs
Obra linda, e como eu adoro um drama, mais do que bem vinda! ❤
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Véi… Lacrimejando aqui só de ler esa Rwview e lembrar do Mangá.
Recomendação para quem vai ler: Esqueça a qualidade técnica da obra. Valorize os sentimentos impregnados naquelas páginas.
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Já estou com o meu livro aqui, esperando terminar alguns mangá atrasados para começar a ler o livro
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Fiquei emocionado com a sua review do livro, mesmo que a new pop não tenha feito um bom trabalho, me parece ser uma boa obra
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realmente é uma belíssima obra de arte
que mexe com o emocional e com o jeito de se compreender a vida
passa o sentimento de luta garra e apego pela vida que muitas pessoas não dão o devido valor por estar doente ou ter uma meta de vida difícil de alcançar nada vai mudar você nunca vai alcançar ficando triste e deprimido mais sim lutando e correndo atrás
essa é uma história de uma vida sofrida mais uma linda historia de luta até o ultimo suspiro
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Com relação aos problemas técnicos do livro, vejo que esse é o maior problema da New Pop. É inadmissível uma editora que conta com o trabalho de dois revisores ter erros, que até eu que tenho uma formação em exatas sei que estão errados, de concordância (vi em Madoka Magica), meninas falando igual homem (“tá me tirando” só faltou o “mano” – vi em Madoka Magica). Até estava pensando em comprar esse livro, p livro parece muito bom, mas depois que fiquei sabendo desses erros, acho que é melhor não.
Muito Obrigado
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Algumas meninas falam igual homem…
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Conheci a história quando comprei o One Shot que a New Pop lançou. Como não ia até o final eu decidi assistir o dorama. Pessoalmente eu gostei mais do mangá, principalmente por essa ‘necessidade’ de um romance. É claro que antes mesmo de começar eu já esperava muitas mudanças, mas nisso me decepcionou um pouco. Fez soar como se não achassem que a história de Aya se sustentaria sozinha nesse formato.
Bom, nenhum me fez chorar, como escrevem/dizem em qualquer lugar quando falam sobre a obra, mas isso não a desmerece (até porque eu não me lembro de qualquer coisa ter me feito chorar). Acho que não me lembro de muitos detalhes do dorama (além daquela maldita música do coral que tocava incansavelmente), mas uma das minhas cenas favoritas do mangá é quando Aya, que finalmente se empolga com os resultados da fisioterapia, depois de se esforçar tanto, ouve uma mãe repreendendo a filha, dizendo que se não se comportasse, ficaria como ela (Aya).
Não sabia que o livro tinha sido lançado aqui, mas depois de ler isso eu não pretendo comprar. Talvez procure uma versão online algum dia, mas já tenho muitos livros na minha lista para gastar com uma versão mal feita. Só é uma pena eu ter gostado do mangá e descobrir que o original foi lançado aqui até com erros ortográficos.
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Um Liro de Lágrimas (1リットルの涙, Ichi rittoru no namida, também chamado de Diário das Lágrimas) se fosse anime, iria desbancar AnoHana do topo da lista dos animes mais tristes
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Ih, esqueci o “T” em “Litros”. Foi mal.
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Melhor definição: ““Um Litro de Lágrimas” não nasceu pra fazer ninguém sorrir, mas sinto que sua existência literária ensina a importância de cada momento de felicidade”.
É uma pena que a história e os esforços de Aya e sua mãe não tenham sido devidamente valorizados com o trabalho da New Pop. Mas pelo menos seus sentimentos e experiências chegaram um pouco mais longe mesmo depois de 25 anos e, como dito na review, nos ensinam a valorizar cada pequeno grão de felicidade.
“Acredito que tudo que é capaz de nos emocionar merece ser lido. Rindo ou chorando, toda emoção merece ser valorizada”. Concordo demais.
Ótima resenha.
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Quem tem tendências suicidas, melhor nem ler esse mangá. Só de ver a sinopse, quase que já corto os pulsos!
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Ou nao. A propria Aya nao se matou mesmo sofrendo tanto e sabendo que nao poderia viver muito. Da pra tirar uma licao disso, nao? 😀
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Kito Aya é uma espécie Anne Frank japonesa. Para quem não sabe, Anne Frank foi uma adolescente judia que registrou o Holocausto em um diário. As duas perderam a vida na juventude, ambas registraram a decadência no modo de vida, privadas da liberdade de fazer o que jovens normais fariam. Conheceram, no processo, o melhor e o pior do ser humano. No fim, foram destruídas por forças que mal poderiam entender, uma pelo nazismo, outra por uma doença cruel. E as duas deixaram como única herança um registro pueril disso tudo.
Gostei do review!
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Ótimo review!
Também conheci a história da Aya pelo dorama, que inclusive foi um dos primeiros que assisti quando comecei a assistir regularmente. Quando eu soube que o romance do dorama tinha sido algo inventado eu fiquei mega surpreso mas eu acho que deveria ter sido menos inocente e ter percebido que era uma manobra de roteiro pra fazer a história correr com um suporte externo que não fosse só a família da menina.
O livro deve ser realmente muito triste. Gosto demais da forma como você descreve as passagens do mesmo e também comenta muito bem sobre as partes técnicas da versão brasileira, que infelizmente está com uma qualidade bem baixa. Acho que a parte da diagramação com os capítulos começando no final da pagina foi o que me deixou mais incomodado, além de desperdiçar espaço ainda quebra o ritmo do capitulo, acho isso bizarro demais.
A maneira que você explicou tanto a história dela quanto os pontos que te agradaram me deixou muito animado para ler. Mesmo sabendo que se trata de uma história bem triste, é impossível não ficar curioso com a história depois de um review desses. É bom demais ler algo de alguém que soube imergir muito bem naquilo que estava querendo ser transmitido e também entendeu a mensagem que a mãe da Aya quis passar publicando o diário da menina. Esse tipo de review é tão bom quanto o livro e a vontade de ler a obra cresce ainda mais 🙂
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Obrigada eterno, Leo! Já disse e sempre repetirei: seu apoio é muito importante pra mim ❤
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Lembro quando eu assisti esse dorama, chorei muito, principalmente nos últimos episódios. Tem um dorama chamado “Sekai no Chuushin de, Ai wo Sakebu ” Que é bem legal também, mas é tão triste quanto 1 litro de lágrimas. Mas vale muito a pena assistir, a história é bem cativante.
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Obrigado Pela Recomendação , vou assistir 😉
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Você não vai se arrepender. =D
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So um adendo: “Sekai no Chuushin de Ai wo Sakebu” teve o manga lancado no Brasil pela JBC como “Socrates in Love”.
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Sério? O mangá é tão bom quanto a série? Porque eu lembro que quase desidratei de tanto chorar em “Sekai no Chuushin” =D
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Nao li ainda, entao nao sei. Mas acho que eh so um volume, nao sei se consegue detalhar muito…
Alias, ja que voce curtiu, parece que o livro em Portugues foi lancado recentemente pela editora Objetiva, como “Um Grito de Amor ao Centro do Mundo”! 😀
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Parabéns pelo Review, tenho so o mangá, quero muito o livro, talvez em Outubro eu ja tenha, to precisando da umas choradas.
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Meu Deus. Ou a sua resenha ficou boa demais ou é o livro. Eu quase chorei aqui lendo seu relato sobre o livro.
Já tenho ele em minhas mãos, e está em algum lugar da minha pilha de leitura que aumenta ao invés de diminuir. Contudo, já dei uma folheada e a mesma me proporcionou uma sensação triste, apenas pelas primeiras páginas.
E sabe o pior? Eu quero muito ler esse livro. Mesmo ele sendo triste e não sendo literatura fantástica, o fato de ser real e da Aya ter existido faz com que eu tenha mais vontade de lê-lo.
Espero que quando o fizer, minha resenha fique comovente igual a sua.
Até mais
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Tem um outro livro baseado nos relatos reais, só que esse não é em forma de diário, mas depois se eu lembrar eu te posto aqui o nome, pois esse tem versão digital pra se baixar, em inglês, e a história é sobre uma garota japonesa que é violonista e que descobre que tem Alzheimer. E esse livro relata o último ano de vida dessa jovem, que acabou cometendo suicídio. A história também é muito triste, te deixa com lágrimas nos olhos até a última página.
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Certeza que eh Alzheimer? Nao costuma atingir pessoas jovens…
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Li o manga e depois o livro e achei ótimo, sei q pode ter erros e tal, mas ainda assim gostei da edição e acho q vale o investimento. Chorei um pouco lendo o livro e é emocionante vc torcer por ela a cada momento e essa passagem da mãe dela foi uma das q me fizeram chorar… Emocionante do começo ao fim e olha q eu não sou chegada a drama, prefiro aventura e tal, mas assim como os livros da autora chinesa Xinran eu acabei me apaixonando pela leitura de “1 Litro de Lágrimas”… Recomendo!
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Vendo o Dorama Eu Chorei Até meus Olhos Incharem , não consegui dormir de tanto chorar e perdi um dia de trabalho ;-;
Quando eu Escuto Konayuki Choro Muuuito mesmo sem nenhum pudor T.T
Esse Livro é Compra na Certa !
Aya-Chan ♥
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“Porque essa doença me escolheu? Realmente, destino é algo que não se pode colocar em palavras”…
A maioria das pessoas que conhecem a história, vão concordar que a Aya lidou com a doença de uma forma que 99% das pessoas no mundo não conseguiriam. Ele era uma menina frágil sim, mas só fisicamente, pois mesmo com as lágrimas, ela nunca abandonou sua esperança esmagadora.
Estava conseguindo me controlar bem lendo o mangá… ATÉ a cena em que [SPOILER SPOILER SPOILER] ela sonha estar curada, porém acorda na mesma situação miserável, e nesse ponto ela não consegue mais segurar e começa a se debater e chorar (o que eu na situação dela, já teria feito há muito tempo). E quando a mãe dela chega ao quarto, ela simplesmente não tem forças pra falar qualquer palavra de consolo, o que naquele momento não era tão plausível, mas seu conforto foi igualmente recebido através de seu abraço e das lágrimas derramadas junto a filha 🙂
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“Porque essa doença me escolheu? Realmente, destino é algo que não se pode colocar em palavras”…
A maioria das pessoas que conhecem a história, vão concordar que a Aya lidou com a doença de uma forma que 99% das pessoas no mundo não conseguiriam. Ele era uma menina frágil sim, mas só fisicamente, pois mesmo com as lágrimas, ela nunca abandonou sua esperança esmagadora.
Estava conseguindo me controlar bem lendo o mangá… ATÉ a cena em que [SPOILER SPOILER SPOILER] ela sonha estar curada, porém acorda na mesma situação miserável, e nesse ponto ela não consegue mais segurar e começa a se debater e chorar (o que eu na situação dela, já teria feito há muito tempo). E quando a mão dela chega ao quarto, ela simplesmente não tem forças pra falar qualquer palavra de consolo, o que naquele momento não era tão plausível, mas seu conforto foi igualmente recebido através de seu abraço e das lágrimas derramadas junto a filha 🙂
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Como pode um negócio ser tão tão emocionante, que só de ler a matéria eu chorei de novo?!
Eu não era na época, nenhuma fanática por doramas, tinha feito uma cirurgia e não podia sair, então, resolvi pegar algo e me apegar. E foi uma semana se não me engano, chorando, o dia inteiro… pq após o episódio, ainda rola um efeito colateral.
Palmas para essa Kito Aya …. vencedora!
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Pingback: Review – Livro: 1 Litro de Lágrimas, de Kito Aya (Editora NewPOP) – Jacqueline C. A. Oliveira | Portfólio